segunda-feira, 10 de outubro de 2016

Pontos riscados de exu

Página do livro "Exu", de Aluizio Fontenelle.

O processo de evocação das entidades na umbanda e na quimbanda apoia-se em diversas etapas e procedimentos rituais. Um deles é pelo ponto riscado, símbolo exclusivo de identificação de cada entidade.

O ponto riscado é um símbolo gráfico em cujas linhas guarda-se a identidade de um determinado exu ou pombagira tal como as letras do alfabeto combinadas fazem com o nome. Os pontos riscados são únicos e servem para rituais de evocação de determinada entidade. Em geral, desenha-se o ponto com a pemba, um giz ritual, se o desenho tiver caráter temporário. 

Segundo o antropólogo Vagner Gonçalves da Silva, "este ato, chamado de 'firmar o ponto', visa construir um centro de força para a realização de operações mágicas. Sobre este emblema, os Exus podem, por exemplo, queimar pólvora ou papéis contendo os pedidos escritos das pessoas."

Ao fim da cerimônia, o ponto é apagado com bucha vegetal. Mas o ponto também pode ser desenhado de maneira definitiva se tratar de uma entidade protetora da casa ou de seus membros.

O modo como cada ponto deve ser desenhado é passado adiante pelos sacerdotes aos devotos e aprendizes dentro do cotidiano dos terreiros e barracões. A bibliografia existente sobre este tema específico costuma ser conflitante. Nem todos os símbolos são apresentados igualmente e vemos autores proclamando possuírem informações mais precisas que os outros. As informações disponíveis na internet não se apresentam diferente.

Ponto riscado de Exu Maioral, em versão baseada
no esoterismo judaico-cristão.
Retirado do livro "Exu" de Aluizio Fontenelle.

Ainda de acordo com Vagner Gonçalves da Silva, os pontos de exus e pombagiras tomam como base a figura do tridente para gerar variações e outros signos que compõem os diversos pontos riscados. Entretanto, obras de forte inclinação kardecista, como "Exu" de Aluizio Fontenelle e "O Livros dos Exus" de Antonio de Alva, apresentam também pontos riscados baseados em símbolos esotéricos de tradição judaico-cristã.

Os pontos reproduzidos abaixo são facilmente encontrados em diversos sites, entretanto a autoria destes arquivos em particular não pode ser determinada. Clique sobre as imagens para vê-las em tamanho ampliado.












segunda-feira, 3 de outubro de 2016

Exu na Argentina e Uruguai - parte 2

"Pomba Gira da Praia"
Obra da exposição "Dueños de la encrucijada"

Exu e Pombagira são entidades espirituais celebradas nos cultos de raiz africana, um aspecto da cultura regional amplamente invisibilizado que, entre a incompreensão e o descrédito, segue crescendo à revelia de todos, abundantemente, nas cidades e suas periferias. Existe neste campo uma identidade comum bem evidente entre Buenos Aires e Montevideo, enriquecida por constantes intercâmbios, viagens e influências entre si de religiosos de ambos países, que majoritariamente, ainda que não todos, reconhecem como fonte histórica a sua prática em Porto Alegre e outras cidades do Brasil. E uma vez estabelecido tal fonte cultural e geográfica, um fenômeno em particular nos oferece uma imagem mais fiel do presente: a expansão do culto a Exu e Pombagira, a quimbanda, vinda do Brasil e resignificada no Uruguai.

Dois aspectos da mesma entidade espiritual, Exu e Pombagira são Exu macho e Exu fêmea.

Exu, um dos orixás ou divindades que chegaram à América com os escravos africanos, foi alterando sua identidade até que, entregue a uma certa hipertrofia ou um crescimento desmedido do organismo ritual, terminou por gerar um culto à parte. E se os demais deuses encontraram sua identificação em figuras católicas como santos, virgens e até mesmo em Jesus, dentro de um fenômeno conhecido como sincretismo, o papel que coube a Exu e Pombagira não foi outro que o de demônios.

"Infierno" de León Ferrari.

Nesta exposição, um claro recorte do resto do vasto panteão de divindades afro-latino-americanas, observamos Exu em sua multiplicidade contraditória, em sua identificação como espírito mas também como orixá ou divindade, para terminar de abrir as comportas à riqueza complexa de obras de arte derivadas de una teologia contemporânea.

Nossa aproximação a estas questões por uma perspectiva das artes visuais se estrutura mediante as fotografias de altares de Guillermo Srodek Hart, obras de artistas contemporâneos de ambos países que trabalham em relação ao tema e a apresentação de algumas peças de arte litúrgica.

As fotos de Srodek Hart, cujo registro aproveita a profundidade da imagem que proporciona uma câmera de 4x5 polegadas, foram realizadas pensando em expor a diversidade de resoluções estéticas que apresentam os altares escolhido; estes são um reflexo de tendências e estilos próprios da personalidade de seus autores, religiosos que se evidenciam assim como artistas por vontade própria diante de suas contundentes instalações.

"Altar de Pomba Gira del Pai Alberto de Oxalá"
de Guillermo Srodek Hart

Os artistas contemporâneos que exibimos dialogam a partir de seus diversos processos. São eles: Dany Barreto, Marcelo Bordese, Nora Correas, León Ferrari, Ángela López Ruiz, Diego Perrotta, Nico Sara, Melina Scumburdis, Gustavo Tabares, Anabel Vanoni, Margaret Whyte, Guillermo Zabaleta. Alguns estão comprometidos com a temática de modo direto e realizam obras que são os relatos de suas vidas religiosas, outros a reconhecem como m produto cultural que nos inspira e são apresentados por encontrarem-se em caminhos coincidentes. Há uma circularidade conceitual entre todos eles, assim como uma necessária confusão de sentidos. Seus trabalhos refletem distintos aspectos do fenômeno: Exu e Pombagira são sexo, criação, comunicadores, transgressores, chaves, o cachorro, malandros, demônios, belos, irônicos. Muitas dessas características são visíveis nestas obras.

Ao mostrar peças de origem ritual tentamos tanto mostrar uma obra de arte peculiar como refletir a respeito de seus modos de produção. Temos peças semi-anônimas e outras em série que apontam na direção das formas a serviço de um conceito.

Conjunto de ferramentas de Exu e Pombagira

Contextualizando, o cenário da arte contemporânea já digeriu a presença explícita do tema afro-religioso na obra de muitos artistas internacionais, começando por Wifredo Lam, Rubem Valentim e chegando a José Bedia, Belkis Ayón, Ana Mendieta, Jean-Michel Basquiat, Mario Cravo Neto. Em relação ao Río de la Plata, sobre a herança da população africana que resultou na base do tango e de outros aspectos da cultura de ambos países, tal como registrou Pedro Figari, é onde se assenta a umbanda vinda do Brasil em meados do século XX. Então já temos Exu por aqui. Não é de se estranhar que há surgido arte de sua sombra.

A arte de Exu e Pombagira exala uma poética que é fruto da relação com um mistério e oferece chaves para compreender eventos que já formam parte da cultura rioplatense. Nascido por uma cosmovisão e uma prática e transformado para formar um contínuo estético diferencial.

Texto de Juan Batalla para a exposição "Dueños de la encrucijada - estéticas de Exú y Pomba Gira en el Río de la Plata". Disponível em: <http://www.arteenlared.com/2009/esteticas-de-exu-y-pomba-gira-en-el-rio-de-la-plata.html>.
Dueños de la encrucijada - estéticas de Exú y Pomba Gira en el Río de la Plata
Montevideo: 28 de abril a 8 de junho de 2009. Museo de Bellas Artes Juan Manuel Blanes
Buenos Aires: 6 a 30 de agosto de 2009. Centro Cultural Ricardo Rojas.

"Exú La Murciélaga" de Dany Barreto

segunda-feira, 26 de setembro de 2016

Exu na Argentina e Uruguai - parte 1

Vitrine da loja Santería Llama Sagrada, em Montevideo.
Foto de Guillermo Srodek Hart.

A influência da religiosidade africana não se restringe aos limites geográficos do Brasil na América do Sul. Não bastasse a existência de 200 terreiros de umbanda em Montevidéu, capital uruguaia, Buenos Aires já conta com mil deles.
Tais dados, apurados após investigação do antropólogo gaúcho Ari Pedro Oro, que escreveu o livro "Axé Mercosul" (1999, editora Vozes), surpreendem pelo fato de Buenos Aires ser formada por uma população majoritariamente branca. O traço étnico minoritário na capital argentina é o dos índios. Negros, não há.
"A implantação da umbanda, batuque e candomblé nessas e em outras cidades da Argentina e do Uruguai se iniciou há cerca de 30 anos", diz Oro, que é professor de antropologia do programa de pós-graduação da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul). A influência da religiosidade afro-brasileira, de acordo com o antropólogo, parte do Rio Grande do Sul.

Loja de artigos religiosos em Montevideo.
Foto de Gonzalo Mega. Disponível em:
<http://fermentario.blogspot.com.br/2012/08/mercantilizacion-de-lo-sagrado.html>

Os primeiros templos de religião africana a se instalar na Argentina foram os de Nélida (Baños) de Oxum, em 1966, e Elio (Machado) de Iemanjá, dois anos depois.
Os dois templos foram registrados no Registro Nacional de Cultos em 1970. Começaram pela umbanda e, em 1973, adotaram o "africanismo" (batuque).
Nélida e Elio são considerados precursores. Em 1979, segundo o antropólogo argentino Alejandro Frigerio, Elio de Iemanjá fundou a Confederação Espírita Umbandista.
Outras histórias contam, por exemplo, que a origem das religiões afro na Argentina está em três travestis que trabalhavam na noite de Rivera (cidade uruguaia que faz divisa com a brasileira Santana do Livramento) na década de 50.
Em Santana do Livramento os três teriam conhecido a mãe-de-santo Teta de Oxalá (Hipólita Lima), que os influenciou. O travesti Santiago Paves, a "Mara de Bará", foi para Buenos Aires e manteve uma clientela fixa.
O antropólogo Alejandro Frigerio diz que realmente "Mara" existiu e foi um dos precursores de religiões afro em Buenos Aires. É possível que a história dela não seja contada oficialmente devido ao preconceito contra o homossexualismo [sic].

Trecho de reportagem de Leo Gerchmann para o Jornal Folha de São Paulo, publicada em 9 de abril de 2000. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mundo/ft0904200010.htm>.

Mediuns caracterizados como exus no terreiro de Pae Alberto Tata, em Buenos Aires.
Disponível em <https://www.facebook.com/paealberto.tatai/media_set?set=a.1327801650579514.1073741846.100000490756264&type=3>

Mediuns caracterizados como exus no terreiro de Pae Alberto Tata, em Buenos Aires.
Disponível em <https://www.facebook.com/paealberto.tatai/media_set?set=a.1327801650579514.1073741846.100000490756264&type=3>

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016

Exu no carnaval

http://oglobo.globo.com/rio/carnaval/2016/mangueira-ganha-estandarte-de-ouro-de-melhor-escola-18638186
 
Em 2016, Exu mais uma vez se fez presente no carnaval. O Grêmio Recreativo Escola de Samba Acadêmicos do Salgueiro (RJ) apresentou o enredo "Ópera dos Malandros". Inspirado na obra "Ópera do Malandro", de Chico Buarque, tratou do universo da boemia e da malandragem carioca. Dos bares e cabarés, passando por "Geni e o zepelim" e personalidades como Bezerra da Silva e Dicró, a escola de samba levou quase 4000 componentes à avenida, divididos em 31 alas.

http://g1.globo.com/rio-de-janeiro/carnaval/2016/noticia/2016/02/exu-da-comissao-do-salgueiro-fala-sobre-assedio-na-web-sempre-bom.html

Na comissão de frente o ator Demerson D'Alvaro foi o destaque, caracterizado como Exu, liderando um séquito de malandros e mulheres da noite. D'Alvaro também chamou a atenção por sua beleza e pelos assédios recebidos nas redes sociais.
 
Por outro lado, a atriz Viviane Araújo, rainha da bateria, foi alvo de críticas ao se caracterizar como a pombagira Maria Padilha ainda durante o ensaio técnico da escola. Mesmo rebatendo as críticas de modo tranquilo, a atriz apareceu com uma fantasia diferente durante o desfile.

http://blogjornalextra.blogspot.com.br/2016/02/retratos-da-vida-retratosdavida-5-de.html

A ala das baianas do Salgueiro apresentou o tema "Ópera Carmen, a pomba gira de Bizet" e Zé Pelintra deu o tom da caracterização de muitos dos malandros ali representados.

http://carnaval.uol.com.br/2016/rio-de-janeiro/album/escolas-de-samba/2016/01/04/salgueiro.htm

"Na figura do Zé Pilintra, entidade das mais importantes das religiões africanas que é exaltada no enredo, o malandro, de chapéu, terno branco e sapato bicolor ou na versão de camiseta listrada, sambou "num palco sob as estrelas", acompanhado de componentes caracterizados como a Pomba Gira. Potentes, as performances foram muito aplaudidas. A escola ganhou o público, que a saudou como campeã na dispersão."
Disponível em: <http://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/agencia-estado/2016/02/09/salgueiro-faz-ode-ao-malandro-e-vila-isabel-conta-vida-de-miguel-arraes.htm>.

http://odia.ig.com.br/diversao/carnaval/2016-02-09/salgueiro-faz-desfile-arrebatador-com-enredo-exaltando-a-malandragem.html

Abaixo a letra do samba enredo do Salgueiro:

Laroiê, mojubá, axé!
Salve o povo de fé, me dê licença!
Eu vou pra rua que a lua me chamou
Refletida em meu chapéu
O rei da noite eu sou
Num palco sob as estrelas
De linho branco vou me apresentar
Malandro descendo a ladeira… Ê, zé!
Da ginga e do bicolor no pé
“Pra se viver do amor” pelas calçadas
Um mestre-sala das madrugadas

Ê, filho da sorte eu sou
Vento sopra a meu favor
Gira sorte, gira mundo, malandro deixa girar
Quem dá as cartas sou eu, pode apostar!

O samba vadio, meu povo a cantar
Dia a dia, bar em bar
Eis minha filosofia
Nos braços da boemia, me deixo levar…
Eu vou por becos e vielas
Chegou o barão das favelas
Quem me protege não dorme
Meu santo é forte, é quem me guia
Na luta de cada manhã
Um mensageiro da paz
De larôs e saravás

É que eu sou malandro, batuqueiro
Cria lá do morro do salgueiro
Se não acredita, vem no meu samba pra ver
O couro vai comer! 

sexta-feira, 25 de dezembro de 2015

Natal é Mojubá


O blog Reconstruindo Exu deseja a todos um feliz Natal e que 2016 seja um ano de grandes realizações.


quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

Exu Leopoldo

Obra "Exu Leopoldo" diante de projeção de filme de Kenneth Anger.


Em diversos textos publicados neste blog ressaltamos a diferença entre o orixá Exu e a classe espiritual que é cultuada na umbanda e na quimbanda. Enquanto o primeiro trata de uma divindade ancestral, os exus e pombagiras da umbanda e quimbanda são vistos como uma classe de espíritos que, em muitos casos, tiveram uma vida terrena e passaram a atuar após a morte.

No livro "O que é umbanda", a autora Patrícia Birman fala sobre o constante surgimento de novos exus e pombagiras:
Os exus, portanto, podem ser negros em uma versão, diabos redivivos em outra, malandros numa terceira, operários, nordestinos, ciganos e assim por diante. Então, as variações interpretativas, a invenção, a recriação na umbanda são um processo dinâmico e constante. Novas entidades, novas características, novos tipos estão permanentemente em elaboração a partir da mesma matriz.
BIRMAN, Patrícia. O que é umbanda. São Paulo: Abril Cultural / Brasiliense, 1985.

Partindo desse princípio dinâmico que favorece o surgimento de novas entidades, pensou-se na possibilidade de o artista se apresentar também como um exu, gerando a obra "Exu Leopoldo", exibida em novembro de 2015 na galeria Casa da Xiclet ao longo da exposição "15 anus de Brasil 500 anos".

Instalação "Exu Leopoldo", durante exposição
na galeria Casa da Xiclet.

Para a instalação criou-se uma imagem digital do artista assemelhando-se a uma das típicas esculturas devocionais da umbanda. A imagem serviu para a criação de uma peça gráfica de grandes dimensões e para ilustrar defumadores e santinhos que era distribuído ao público presente. O verso do santinho é composto por um texto poético estruturado como uma oração para a evocação de Exu Leopoldo. Aos pés da peça gráfica, objetos variados sugerem oferendas a Exu Leopoldo. Um alguidar vazio convidava os visitantes a deixar novas oferendas.

Caixas de defumadores "Exu Leopoldo" preparadas para a exposição.

Santinho de Exu Leopoldo e oração do verso.



segunda-feira, 12 de outubro de 2015

Exu no Museu Afro Brasil

O Museu Afro Brasil  foi fundado em 2004 por seu diretor e curador, o artista Emanoel Araújo. 
Localizado no pavilhão Padre Manoel da Nóbrega, no Parque Ibirapuera, em São Paulo, a instituição possui mais de 6 mil obras, entre pinturas, esculturas, gravuras, fotografias, documentos e peças etnológicas, de autores brasileiros e estrangeiros, produzidos entre o século XVIII e os dias de hoje. O acervo abarca diversos aspectos dos universos culturais africanos e afro-brasileiros, abordando temas como a religião, o trabalho, a arte, a escravidão, entre outros temas ao registrar a trajetória histórica e as influências africanas na construção da sociedade brasileira.
(Texto adaptado da apresentação disponível no site da instituição). 

Exu, orixá mensageiro entre os homens e os deuses, é uma das figuras mais polêmicas do candomblé. Desde sua origem na África, está associado ao poder de fertilização e à força transformadora das coisas. Nada se faz, portanto, sem sua permissão. Entre os objetos que o representam está o ogó, instrumento de madeira esculpido em forma de pênis e adornado com cabaças e búzios, que representam os testículos e o sêmen.
Espírito justo, porém vingativo, Exu nada executa sem obter algo em troca e não esquece de cobrar as promessas feitas a ele. Um mito iorubano conta que dois amigos esqueceram de fazer as oferendas devidas a Exu. este colocou então na cabeça um chapéu pintado de um lado vermelho e de outro branco. Ao passar entre os dois amigos, cumprimentou-os e prosseguiu. Os amigos intrigados se questionaram: " Quem seria o andarilho com aquele chapéu vermelho?". O outro retrucou: "Não, o chapéu era branco". Discutindo a respeito da cor do chapéu, os amigos começara a brigar até se matarem... 
O dia de Exu é a segunda-feira, dia das almas no calendário católico, e sua comida preferida é o galo, farofa de dendê, pimenta e cachaça. Com essas atribuições é fácil de imaginar porque o culto a Exu era visto como demoníaco pela Igreja já na África e no Brasil colonial. A associação com esta divindade com o demônio, que era invocado nas orgias sexuais das bruxas da Idade Média, deu-lhe feições de diabo com chifres, rabo e patas de bode no lugar das mãos. No rito jeje, o deus mensageiro é Elebará e no rito angola é Aluviá (masculino) e Pombagira (feminino).
(Texto disponível na exposição permanente do Museu Afro Brasil)

O ensaio abaixo apresenta algumas das peças do acervo permanente em exibição. Clique sobre as imagens para vê-las em tamanho ampliado. O blog Reconstruindo Exu recomenda enfaticamente aos seus leitores que visitem o Museu Afro Brasil. O museu está aberto de terça-feira a domingo, das 10 às 17h. O ingresso custa R$ 6,00 e aos sábados a entrada é gratuita. Para mais informações acesse o site da instituição: http://www.museuafrobrasil.org.br

Exu
Metal

Exu
Goiás
Madeira e fibra vegetal

Hugo Negrini
Exu
Resina de poliéster e tinta automotiva

José Alves
Barca dos Exus
Madeira pintada, fibra vegetal e metal

Nelson Leirner
O cortejo
2009
Instalação

Tamba
Viagem dos exus e Exus
Cachoeira, Bahia

Aldemir Martins
Exu
1966
Aquarela e nanquim sobre papel

Carybé
Exu
Tecido, metal, madeira, conchas

Chico Tabibuia
Exus
Madeira

Exu
Nigéria
Madeira

Exu
Nigéria
Madeira

Pierre Verger
Exu
Fotografia

Chico Tabibuia
Exu
Madeira policromada

segunda-feira, 31 de agosto de 2015

Exus da Espanha: Maria Padilha

María de Padilla nua diante de Pedro I, em gravura do artista
francês Jean Louis Paul Gervais (1859 - 1944).

Na umbanda os exus e pombagiras representam uma classe de espíritos que, não raro, passaram por uma vida terrena. Durante a investigação sobre a relação entre essas entidades e a cultura espanhola apontamos que algumas delas nasceram e viveram em diferentes locais da Espanha antes de ascender ao status de espíritos da chamada linha de esquerda.
Uma das pombagiras mais populares da umbanda, cuja biografia está incorporada à história da Espanha, é Maria Padilha.

María de Padilla - a personagem histórica

María de Padilla é uma figura polêmica na história da Espanha. De origem nobre, nasceu na cidade de Palencia, em 1334. Em 1352, aos 18 anos, conheceu Pedro I, o Cruel, rei de Castilla, e logo tornou-se sua amante. Entretanto, Pedro I já estava comprometido com um casamento arranjado com Blanche de Bourbon, filha do Duque Pierre I de Bourbon, selando uma aliança entre os reinos da França e Castilla. O matrimônio aconteceu no ano seguinte, em 1353.
A relação durou pouco: apenas dois dias após o casamento, Pedro abandonou Blanche para logo em seguida exilá-la e então assumir publicamente sua relação com María de Padilla. A decisão do rei dividiu a sociedade entre seus apoiadores e os que tomaram partido da rainha exilada. A situação de Pedro complicou-se com o envolvimento do Papa Inocencio VI, que o ameaçou de excomunhão. María, tentando desviar-se das ameaças do Papa, pediu-lhe permissão para fundar um monastério em sua província natal.

María de Padilla dá nome a rua no centro de Sevilha.
Foto de Leopoldo Tauffenbach.
Os banhos de María de Padilla no Real Alcazar de Sevilha.
Foto de Leopoldo Tauffenbach.
Os anos seguintes não foram tranquilos para o rei Pedro I. A pressão para que voltasse atrás em sua decisão aumentava a cada dia, juntamente com os partidários de Blanche de Bourbon. Isso o obrigava a mudar a soberana de cárcere constantemente. Mas a cada cidade que chegava, mais pessoas se sensibilizavam com sua causa. A situação tornou-se de tal modo insustentável que, em 1361, mandou assassinar Blanche para finalmente coroar María de Padilla. Mas a coroação nunca chegou a acontecer. Suspeita-se que a peste negra tenha sido a causa da prematura morte de María, em 1361, na cidade de Sevilha, com apenas 27 anos.
Sua história é notada até hoje na cidade onde viveu seus últimos dias. María de Padilha dá nome a ruas e ao complexo balneário do antigo palácio real. Seus restos mortais repousam na cripta da Capela Real da majestosa Catedral de Sevilha. Foi também tema de gravuras e pinturas, além de uma ópera composta pelo prolífico italiano Domenico Gaetano Donizetti, apresentada pela primeira vez em 1841.



Maria Padilha - a entidade espiritual

Imagem de Maria Padilha produzida por Imagens Bahia.
Foto de Leopoldo Tauffenbach.
É difícil precisar o momento em que a espanhola María de Padilla se apresenta como uma pombagira. Na umbanda os espíritos se revelam diretamente aos médiuns. Assim é de se supor que em algum momento o espírito da nobre palenciana comunicou-se com algum médium e declarou seu propósito de contribuir com a humanidade desde o além, junto a outras pombagiras.
Não é incomum encontrarmos contradições em relação à sua história como entidade espiritual, já que cada fonte diz conhecer sua verdadeira história. Tampouco é incomum encontrarmos adições fantasiosas à sua biografia terrena, como a que diz que havia sido instruída na magia negra por um mestre judeu e que havia lançado um feitiço para afastar Pedro I de Blanche de Bourbon.
Mas há de se reconhecer que a história de María de Padilla possui elementos suficientes para alimentar o imaginário e sustentar as lendas que envolvem a pombagira Maria Padilha. A ideia de uma jovem extremamente sedutora, capaz de levar um poderoso monarca à perdição, e a coincidência entre o assassinato de Blanche e a peste, que parece chegar como castigo poucos meses depois, constituem elementos que vão de encontro às expectativas nas narrativas que envolvem as pombagiras além de reforçar as ideias de carma e resgate presentes na umbanda.
Seu ponto cantado não faz referência ao seu passado como cortesã espanhola, mencionando apenas sua posição como entidade sobrenatural e seu compromisso em ajudar os aflitos que a invocam:

Perambulava pelas ruas
Já sem saber o que fazer
Procurava na noite
Uma solução pra tanta dor
Sofrimento e solidão
Então eu clamei ao povo da rua
Que me enviasse no momento alguma ajuda
Pois eu já não tinha forças pra continuar
Quando me virei, vi uma mulher
Na beira da estrada
Trazia uma rosa em sua mão
Um feitiço no olhar
Naquela bela noite de luar
Vislumbrei sua dança com sua saia a rodar
Eu me aproximei e lhe perguntei o que ela fazia na estrada
Ela respondeu: Hoje sou rainha e vim lhe ajudar

Sou Maria Padilha
Salve Maria Padilha!
Quando precisei, oh pombogira, você veio me ajudar
Tu deste outro rumo a minha vida
Hoje eu venho te louvar!


Ponto riscado de Maria Padilha.
Maria Padilha tornou-se não só uma entidade, mas sinônimo de uma linha de pombagiras distintas que compartilham características comuns, como Maria Padilha das Almas, Maria Padilha da Encruzilhada, Maria Padilha Rainha etc (para mais informações consulte o link os nomes de Pombagira).