domingo, 12 de janeiro de 2014

Origens de Exu - parte 4: Orixás e sincretismo na América

Série de postagens a respeito das origens de Exu com base na investigação de Pierre Verger, apresentada no livro Orixás - Deuses Iorubás na África e no Novo Mundo.

Ogó de Exu. Nigéria, século XX.
Acervo do Metropolitan Museum of Art.

A presença dessas religiões africanas no novo mundo é uma conseqüência imprevista do tráfico de escravos. Escravos estes que foram trazidos para os diferentes países das Américas e das Antilhas, provenientes de regiões da África escalonadas de maneira descontínua, ao longo da costa ocidental, entre Senegâmbia e Angola. Provenientes, também, da costa oriental de Moçambique e da ilha de São Lourenço, nome dado época a Madagascar. 
Disso resultou, no Novo Mundo, Uma multidão de cativos que não falava a mesma língua, possuindo hábitos de vida diferentes e religiões distintas. Em comum, não tinham senão a infelicidade de estar, todos eles, reduzidos à escravidão, longe das suas terras de origem.
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As convicções religiosas dos escravos eram, entretanto, colocadas a duras provas quando de sua chegada ao Novo Mundo, onde eram batizados obrigatoriamente "para a salvação de sua alma" e devia curvar-se às doutrinas religiosas de seus mestres.

Sincretismo

É difícil precisar o momento exato em que esse sincretismo se estabeleceu. Parece ter-se baseado, de maneira geral, sobre detalhes das estampas religiosas que poderiam lembrar certas características dos deuses africanos.
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Os santos católicos, ao se aproximarem dos deuses africanos, tornavam-se mais compreensíveis e familiares aos recém-convertidos. É difícil saber se essa tentativa contribuiu efetivamente para converter os africanos, ou se ela os encorajou na utilização dos santos para dissimular as sua verdadeiras crenças.
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Nos candomblés, as duas religiões permanecem separadas, e Nina Rodrigues constatava que, em fins do último século, a conversão religiosa não fez mais que justapor as exterioridades muito mal compreendidas do culto católico às suas crenças e práticas fetichistas que em nada se modificaram. Concebem os seus santos ou orixás e os santos católicos como de categoria igual, embora perfeitamente distintos.
Os africanos escravizados se declaravam e aparentavam convertidos ao catolicismo; as práticas fetichistas puderam manter-se entre eles até hoje quase tão extremes de mescla como na África. Depois, as viagens constantes para a África com navegação e relações comerciais diretas facilitaram a reimportação de crenças e práticas, porventura um momento esquecido ou adulterado. Com o passar do tempo, com a participação de descendentes de africanos e de mulatos cada vez mais numerosa, educada num igual respeito pelas duas religiões, tornaram-se eles tão sinceramente católicos quando vão à igreja, como ligados às tradições africanas, quando participam, zelosamente, das cerimônias de candomblé.

Trechos retirados do livro Orixás - Deuses Iorubás na África e no Novo Mundo, de Pierre Fatumbi Verger. Salvador: Corrupio, 1981.

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