quarta-feira, 5 de agosto de 2015

Exu na MPB


Em 1926 a Odeon assumiria sua fábrica brasileira das mãos da Casa Edison e em 1929 chegavam ao país as gravadoras multinacionais Victor e Columbia. Naquele fim de anos 20 as gravações eletromagnéticas sobrepunham-se definitivamente sobre as mecânicas e o microfone abria um mundo de possibilidades. Com a popularização das vitrolas, os registros musicais comerciais encontravam o formato que seria seu padrão por décadas: chapas de dez polegadas, feitas de cera de carnaúba e goma-laca, girando a 78 rotações por minuto.
Mas a essa altura, pelos anos 20, o imaginário da cultura afrobrasileira já se infiltrava intensamente na música popular, e os ritmos tornavam-se mais foco de atenção. Vários sambas falavam em “macumba” e/ou assimilivam modos, termos, imaginário dos rituais afrobrasileiros.
Donga era mestre em incontáveis adaptações de temas populares, desde pelo menos o “primeiro samba” “Pelo telefone” em 1917. “Sai Exu” era tema assinado por ele, classificado como “jongo”, tirado do repertório d’Os Oito Batutas e com eles gravado em 1928 pelo ex-crooner da Orquestra Típica Pixinguinha-Donga, Benício Barbosa (no mesmo ano em que também lançou o samba “Candomblé”, de Dario Ferreira). Além do refrão “Vamos saravá”, a letra diz: “Tenho o corpo fechado pra receber o que vié / Pode mandá pra cima de mim teu sujo candomblé” e “Pode fazê despacho com cabeça de urubu / Hei de sair à rua gritando sempre sai exu”. De fato, a relação dos rituais afrobrasileiros com o samba era íntima, desde pelo menos os batuques da casa de Tia Ciata, frequentada por Donga e Sinhô, e tudo que ela trouxe da Bahia – maior concentração de pretos no país que mais recebeu africanos escravizados.



Texto e gravação retirados do site Goma-Laca, disponível em <http://www.goma-laca.com/portfolio/as-mais-antigas-gravacoes-de-temas-afrobrasileiros/>. Indicação do pesquisador Carlos Primati.

Em 1966 os compositores Baden Powell e Vinicius de Moraes lançam o disco "Os Afro-Sambas". Comenta o próprio Vinicius, na contra-capa do LP:
Essas antenas que Baden tem ligadas para a Bahia e, em última instância, para a África, permitiram-lhe realizar um novo sincretismo , carioquizar, dentro do espírito samba moderno, o candomblé afro-brasileiro, dando-lhe ao mesmo tempo uma dimensão mais universal. Quando Roberto Quartin nos procurou interessado em gravar esta série, combinamos com o jovem e talentoso produtor que o disco seria feito com um máximo de liberdade criadora e um mínimo de interesse comercial.Não nos interessava fazer um disco “bem feito” do ponto de vista artesanal, mas sim espontâneo, buscando a transmissão simples do que queriam nossos sambas dizer. Gravaríamos, inclusive, faixas mais longas do que gostam os homens de rádio e consequentemente a maior parte dos nossos intérpretes. E Embora não sejamos cantores, no sentido profissional da palavra, preferimos gravá-los nós mesmos a entregá-los a cantores e cantoras que realmente distorcem a melodia e o ritmo das canções em benefício de seu modo comercial de cantar ou de suas deformações profissionais adquiridas no sucesso efêmero junto a um público menos exigente. Assim estamos certos de que, pelo menos, gravamos uma matriz simples e correta, sem modismos nem sofisticações.



A banda Metá Metá surgiu em 2011, composta pelo multi-artista Kiko Dinucci, a cantora Juçara Marçal e o saxofonista Thiago França. "Exu" é a faixa que abre o segundo álbum da banda, intitulado "MetaL MetaL", que pode ser baixado gratuitamente no site de Kiko Dinucci.


O cantor Itamar Assumpção (1949-2003) era bisneto de angolanos feitos escravos e criado no candomblé. Suas músicas mesclavam diferentes gêneros musicais e abordavam diversos temas, das críticas sociais ao imaginário religioso afro-brasileiro. "Zé Pelintra" é uma faixa de seu quarto disco, "Intercontinental! Quem Diria! Era Só o Que Faltava!!!", o único lançado por uma grande gravadora.


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