sexta-feira, 25 de dezembro de 2015

Natal é Mojubá


O blog Reconstruindo Exu deseja a todos um feliz Natal e que 2016 seja um ano de grandes realizações.


quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

Exu Leopoldo

Obra "Exu Leopoldo" diante de projeção de filme de Kenneth Anger.


Em diversos textos publicados neste blog ressaltamos a diferença entre o orixá Exu e a classe espiritual que é cultuada na umbanda e na quimbanda. Enquanto o primeiro trata de uma divindade ancestral, os exus e pombagiras da umbanda e quimbanda são vistos como uma classe de espíritos que, em muitos casos, tiveram uma vida terrena e passaram a atuar após a morte.

No livro "O que é umbanda", a autora Patrícia Birman fala sobre o constante surgimento de novos exus e pombagiras:
Os exus, portanto, podem ser negros em uma versão, diabos redivivos em outra, malandros numa terceira, operários, nordestinos, ciganos e assim por diante. Então, as variações interpretativas, a invenção, a recriação na umbanda são um processo dinâmico e constante. Novas entidades, novas características, novos tipos estão permanentemente em elaboração a partir da mesma matriz.
BIRMAN, Patrícia. O que é umbanda. São Paulo: Abril Cultural / Brasiliense, 1985.

Partindo desse princípio dinâmico que favorece o surgimento de novas entidades, pensou-se na possibilidade de o artista se apresentar também como um exu, gerando a obra "Exu Leopoldo", exibida em novembro de 2015 na galeria Casa da Xiclet ao longo da exposição "15 anus de Brasil 500 anos".

Instalação "Exu Leopoldo", durante exposição
na galeria Casa da Xiclet.

Para a instalação criou-se uma imagem digital do artista assemelhando-se a uma das típicas esculturas devocionais da umbanda. A imagem serviu para a criação de uma peça gráfica de grandes dimensões e para ilustrar defumadores e santinhos que era distribuído ao público presente. O verso do santinho é composto por um texto poético estruturado como uma oração para a evocação de Exu Leopoldo. Aos pés da peça gráfica, objetos variados sugerem oferendas a Exu Leopoldo. Um alguidar vazio convidava os visitantes a deixar novas oferendas.

Caixas de defumadores "Exu Leopoldo" preparadas para a exposição.

Santinho de Exu Leopoldo e oração do verso.



segunda-feira, 12 de outubro de 2015

Exu no Museu Afro Brasil

O Museu Afro Brasil  foi fundado em 2004 por seu diretor e curador, o artista Emanoel Araújo. 
Localizado no pavilhão Padre Manoel da Nóbrega, no Parque Ibirapuera, em São Paulo, a instituição possui mais de 6 mil obras, entre pinturas, esculturas, gravuras, fotografias, documentos e peças etnológicas, de autores brasileiros e estrangeiros, produzidos entre o século XVIII e os dias de hoje. O acervo abarca diversos aspectos dos universos culturais africanos e afro-brasileiros, abordando temas como a religião, o trabalho, a arte, a escravidão, entre outros temas ao registrar a trajetória histórica e as influências africanas na construção da sociedade brasileira.
(Texto adaptado da apresentação disponível no site da instituição). 

Exu, orixá mensageiro entre os homens e os deuses, é uma das figuras mais polêmicas do candomblé. Desde sua origem na África, está associado ao poder de fertilização e à força transformadora das coisas. Nada se faz, portanto, sem sua permissão. Entre os objetos que o representam está o ogó, instrumento de madeira esculpido em forma de pênis e adornado com cabaças e búzios, que representam os testículos e o sêmen.
Espírito justo, porém vingativo, Exu nada executa sem obter algo em troca e não esquece de cobrar as promessas feitas a ele. Um mito iorubano conta que dois amigos esqueceram de fazer as oferendas devidas a Exu. este colocou então na cabeça um chapéu pintado de um lado vermelho e de outro branco. Ao passar entre os dois amigos, cumprimentou-os e prosseguiu. Os amigos intrigados se questionaram: " Quem seria o andarilho com aquele chapéu vermelho?". O outro retrucou: "Não, o chapéu era branco". Discutindo a respeito da cor do chapéu, os amigos começara a brigar até se matarem... 
O dia de Exu é a segunda-feira, dia das almas no calendário católico, e sua comida preferida é o galo, farofa de dendê, pimenta e cachaça. Com essas atribuições é fácil de imaginar porque o culto a Exu era visto como demoníaco pela Igreja já na África e no Brasil colonial. A associação com esta divindade com o demônio, que era invocado nas orgias sexuais das bruxas da Idade Média, deu-lhe feições de diabo com chifres, rabo e patas de bode no lugar das mãos. No rito jeje, o deus mensageiro é Elebará e no rito angola é Aluviá (masculino) e Pombagira (feminino).
(Texto disponível na exposição permanente do Museu Afro Brasil)

O ensaio abaixo apresenta algumas das peças do acervo permanente em exibição. Clique sobre as imagens para vê-las em tamanho ampliado. O blog Reconstruindo Exu recomenda enfaticamente aos seus leitores que visitem o Museu Afro Brasil. O museu está aberto de terça-feira a domingo, das 10 às 17h. O ingresso custa R$ 6,00 e aos sábados a entrada é gratuita. Para mais informações acesse o site da instituição: http://www.museuafrobrasil.org.br

Exu
Metal

Exu
Goiás
Madeira e fibra vegetal

Hugo Negrini
Exu
Resina de poliéster e tinta automotiva

José Alves
Barca dos Exus
Madeira pintada, fibra vegetal e metal

Nelson Leirner
O cortejo
2009
Instalação

Tamba
Viagem dos exus e Exus
Cachoeira, Bahia

Aldemir Martins
Exu
1966
Aquarela e nanquim sobre papel

Carybé
Exu
Tecido, metal, madeira, conchas

Chico Tabibuia
Exus
Madeira

Exu
Nigéria
Madeira

Exu
Nigéria
Madeira

Pierre Verger
Exu
Fotografia

Chico Tabibuia
Exu
Madeira policromada

segunda-feira, 31 de agosto de 2015

Exus da Espanha: Maria Padilha

María de Padilla nua diante de Pedro I, em gravura do artista
francês Jean Louis Paul Gervais (1859 - 1944).

Na umbanda os exus e pombagiras representam uma classe de espíritos que, não raro, passaram por uma vida terrena. Durante a investigação sobre a relação entre essas entidades e a cultura espanhola apontamos que algumas delas nasceram e viveram em diferentes locais da Espanha antes de ascender ao status de espíritos da chamada linha de esquerda.
Uma das pombagiras mais populares da umbanda, cuja biografia está incorporada à história da Espanha, é Maria Padilha.

María de Padilla - a personagem histórica

María de Padilla é uma figura polêmica na história da Espanha. De origem nobre, nasceu na cidade de Palencia, em 1334. Em 1352, aos 18 anos, conheceu Pedro I, o Cruel, rei de Castilla, e logo tornou-se sua amante. Entretanto, Pedro I já estava comprometido com um casamento arranjado com Blanche de Bourbon, filha do Duque Pierre I de Bourbon, selando uma aliança entre os reinos da França e Castilla. O matrimônio aconteceu no ano seguinte, em 1353.
A relação durou pouco: apenas dois dias após o casamento, Pedro abandonou Blanche para logo em seguida exilá-la e então assumir publicamente sua relação com María de Padilla. A decisão do rei dividiu a sociedade entre seus apoiadores e os que tomaram partido da rainha exilada. A situação de Pedro complicou-se com o envolvimento do Papa Inocencio VI, que o ameaçou de excomunhão. María, tentando desviar-se das ameaças do Papa, pediu-lhe permissão para fundar um monastério em sua província natal.

María de Padilla dá nome a rua no centro de Sevilha.
Foto de Leopoldo Tauffenbach.
Os banhos de María de Padilla no Real Alcazar de Sevilha.
Foto de Leopoldo Tauffenbach.
Os anos seguintes não foram tranquilos para o rei Pedro I. A pressão para que voltasse atrás em sua decisão aumentava a cada dia, juntamente com os partidários de Blanche de Bourbon. Isso o obrigava a mudar a soberana de cárcere constantemente. Mas a cada cidade que chegava, mais pessoas se sensibilizavam com sua causa. A situação tornou-se de tal modo insustentável que, em 1361, mandou assassinar Blanche para finalmente coroar María de Padilla. Mas a coroação nunca chegou a acontecer. Suspeita-se que a peste negra tenha sido a causa da prematura morte de María, em 1361, na cidade de Sevilha, com apenas 27 anos.
Sua história é notada até hoje na cidade onde viveu seus últimos dias. María de Padilha dá nome a ruas e ao complexo balneário do antigo palácio real. Seus restos mortais repousam na cripta da Capela Real da majestosa Catedral de Sevilha. Foi também tema de gravuras e pinturas, além de uma ópera composta pelo prolífico italiano Domenico Gaetano Donizetti, apresentada pela primeira vez em 1841.



Maria Padilha - a entidade espiritual

Imagem de Maria Padilha produzida por Imagens Bahia.
Foto de Leopoldo Tauffenbach.
É difícil precisar o momento em que a espanhola María de Padilla se apresenta como uma pombagira. Na umbanda os espíritos se revelam diretamente aos médiuns. Assim é de se supor que em algum momento o espírito da nobre palenciana comunicou-se com algum médium e declarou seu propósito de contribuir com a humanidade desde o além, junto a outras pombagiras.
Não é incomum encontrarmos contradições em relação à sua história como entidade espiritual, já que cada fonte diz conhecer sua verdadeira história. Tampouco é incomum encontrarmos adições fantasiosas à sua biografia terrena, como a que diz que havia sido instruída na magia negra por um mestre judeu e que havia lançado um feitiço para afastar Pedro I de Blanche de Bourbon.
Mas há de se reconhecer que a história de María de Padilla possui elementos suficientes para alimentar o imaginário e sustentar as lendas que envolvem a pombagira Maria Padilha. A ideia de uma jovem extremamente sedutora, capaz de levar um poderoso monarca à perdição, e a coincidência entre o assassinato de Blanche e a peste, que parece chegar como castigo poucos meses depois, constituem elementos que vão de encontro às expectativas nas narrativas que envolvem as pombagiras além de reforçar as ideias de carma e resgate presentes na umbanda.
Seu ponto cantado não faz referência ao seu passado como cortesã espanhola, mencionando apenas sua posição como entidade sobrenatural e seu compromisso em ajudar os aflitos que a invocam:

Perambulava pelas ruas
Já sem saber o que fazer
Procurava na noite
Uma solução pra tanta dor
Sofrimento e solidão
Então eu clamei ao povo da rua
Que me enviasse no momento alguma ajuda
Pois eu já não tinha forças pra continuar
Quando me virei, vi uma mulher
Na beira da estrada
Trazia uma rosa em sua mão
Um feitiço no olhar
Naquela bela noite de luar
Vislumbrei sua dança com sua saia a rodar
Eu me aproximei e lhe perguntei o que ela fazia na estrada
Ela respondeu: Hoje sou rainha e vim lhe ajudar

Sou Maria Padilha
Salve Maria Padilha!
Quando precisei, oh pombogira, você veio me ajudar
Tu deste outro rumo a minha vida
Hoje eu venho te louvar!


Ponto riscado de Maria Padilha.
Maria Padilha tornou-se não só uma entidade, mas sinônimo de uma linha de pombagiras distintas que compartilham características comuns, como Maria Padilha das Almas, Maria Padilha da Encruzilhada, Maria Padilha Rainha etc (para mais informações consulte o link os nomes de Pombagira).

quarta-feira, 5 de agosto de 2015

Exu na MPB


Em 1926 a Odeon assumiria sua fábrica brasileira das mãos da Casa Edison e em 1929 chegavam ao país as gravadoras multinacionais Victor e Columbia. Naquele fim de anos 20 as gravações eletromagnéticas sobrepunham-se definitivamente sobre as mecânicas e o microfone abria um mundo de possibilidades. Com a popularização das vitrolas, os registros musicais comerciais encontravam o formato que seria seu padrão por décadas: chapas de dez polegadas, feitas de cera de carnaúba e goma-laca, girando a 78 rotações por minuto.
Mas a essa altura, pelos anos 20, o imaginário da cultura afrobrasileira já se infiltrava intensamente na música popular, e os ritmos tornavam-se mais foco de atenção. Vários sambas falavam em “macumba” e/ou assimilivam modos, termos, imaginário dos rituais afrobrasileiros.
Donga era mestre em incontáveis adaptações de temas populares, desde pelo menos o “primeiro samba” “Pelo telefone” em 1917. “Sai Exu” era tema assinado por ele, classificado como “jongo”, tirado do repertório d’Os Oito Batutas e com eles gravado em 1928 pelo ex-crooner da Orquestra Típica Pixinguinha-Donga, Benício Barbosa (no mesmo ano em que também lançou o samba “Candomblé”, de Dario Ferreira). Além do refrão “Vamos saravá”, a letra diz: “Tenho o corpo fechado pra receber o que vié / Pode mandá pra cima de mim teu sujo candomblé” e “Pode fazê despacho com cabeça de urubu / Hei de sair à rua gritando sempre sai exu”. De fato, a relação dos rituais afrobrasileiros com o samba era íntima, desde pelo menos os batuques da casa de Tia Ciata, frequentada por Donga e Sinhô, e tudo que ela trouxe da Bahia – maior concentração de pretos no país que mais recebeu africanos escravizados.



Texto e gravação retirados do site Goma-Laca, disponível em <http://www.goma-laca.com/portfolio/as-mais-antigas-gravacoes-de-temas-afrobrasileiros/>. Indicação do pesquisador Carlos Primati.

Em 1966 os compositores Baden Powell e Vinicius de Moraes lançam o disco "Os Afro-Sambas". Comenta o próprio Vinicius, na contra-capa do LP:
Essas antenas que Baden tem ligadas para a Bahia e, em última instância, para a África, permitiram-lhe realizar um novo sincretismo , carioquizar, dentro do espírito samba moderno, o candomblé afro-brasileiro, dando-lhe ao mesmo tempo uma dimensão mais universal. Quando Roberto Quartin nos procurou interessado em gravar esta série, combinamos com o jovem e talentoso produtor que o disco seria feito com um máximo de liberdade criadora e um mínimo de interesse comercial.Não nos interessava fazer um disco “bem feito” do ponto de vista artesanal, mas sim espontâneo, buscando a transmissão simples do que queriam nossos sambas dizer. Gravaríamos, inclusive, faixas mais longas do que gostam os homens de rádio e consequentemente a maior parte dos nossos intérpretes. E Embora não sejamos cantores, no sentido profissional da palavra, preferimos gravá-los nós mesmos a entregá-los a cantores e cantoras que realmente distorcem a melodia e o ritmo das canções em benefício de seu modo comercial de cantar ou de suas deformações profissionais adquiridas no sucesso efêmero junto a um público menos exigente. Assim estamos certos de que, pelo menos, gravamos uma matriz simples e correta, sem modismos nem sofisticações.



A banda Metá Metá surgiu em 2011, composta pelo multi-artista Kiko Dinucci, a cantora Juçara Marçal e o saxofonista Thiago França. "Exu" é a faixa que abre o segundo álbum da banda, intitulado "MetaL MetaL", que pode ser baixado gratuitamente no site de Kiko Dinucci.


O cantor Itamar Assumpção (1949-2003) era bisneto de angolanos feitos escravos e criado no candomblé. Suas músicas mesclavam diferentes gêneros musicais e abordavam diversos temas, das críticas sociais ao imaginário religioso afro-brasileiro. "Zé Pelintra" é uma faixa de seu quarto disco, "Intercontinental! Quem Diria! Era Só o Que Faltava!!!", o único lançado por uma grande gravadora.


quinta-feira, 16 de julho de 2015

Exu Toureiro na Casa da Xiclet

Altar a Exu Toureiro.
Instalação.
Leopoldo Tauffenbach. São Paulo, 2015.

De 12 a 31 de julho de 2015, em São Paulo, acontece a exposição MoMA, na galeria Casa da Xiclet. Ali está exposta a instalação "Altar para Exu Toureiro", desenvolvida com base na experiência do projeto "Exus de Madrid". Tal como no projeto levado a cabo em 2014 na Espanha, trata-se de repensar e recriar os exus por uma perspectiva poética.

A obra propõe um altar a um exu imaginado, o Exu Toureiro, baseado em intervenção realizada na Espanha, desta vez incorporando aspectos do imaginário brasileiro. O altar está colocado diante de um grande ponto riscado, criado para esta entidade, e apresenta objetos que se relacionam tanto com a atividade do toureiro como aos exus.

Uma das peças do altar apresenta uma foto do toureiro José Gómez Ortega, conhecido com Joselito, el Gallo (o galo). Tal como conta a lenda de grande parte dos exus, Joselito sofreu uma morte trágica em maio de 1920, quando teve os intestinos arrancados por um touro enquanto se apresentava na cidade de Talavera de la Reina. Além disso a escolha de "el Gallo" também nos recorda o animal sacrificial de Exu.

Abaixo estão alguns registros da instalação. Clique sobre as imagens para vê-las em tamanho ampliado.


Altar para Exu Toureiro.
Instalação.
Leopoldo Tauffenbach. São Paulo, 2015.

Altar para Exu Toureiro.
Instalação.
Leopoldo Tauffenbach. São Paulo, 2015.

Detalhe de Altar para Exu Toureiro.
Instalação.
Leopoldo Tauffenbach. São Paulo, 2015.

Detalhe de Altar para Exu Toureiro.
Instalação.
Leopoldo Tauffenbach. São Paulo, 2015.

Detalhe de Altar para Exu Toureiro.
Instalação.
Leopoldo Tauffenbach. São Paulo, 2015.

Detalhe de Altar para Exu Toureiro.
Instalação.
Leopoldo Tauffenbach. São Paulo, 2015.

Detalhe de Altar para Exu Toureiro.
Instalação.
Leopoldo Tauffenbach. São Paulo, 2015.

Detalhe de Altar para Exu Toureiro.
Instalação.
Leopoldo Tauffenbach. São Paulo, 2015.