terça-feira, 25 de junho de 2013

Exu e Jorge Amado

"Exu" - foto de Edmilson Silva da escultura de Mario Cravo
na Fundação Casa de Jorge Amado.
<http://www.flickr.com/photos/edmilsonsilva/94019382/>

Exu come tudo que a boca come, bebe cachaça, é um cavalheiro andante e um menino reinador. Gosta de balbúrdia, senhor dos caminhos, mensageiro dos deuses, correio dos orixás, um capeta. Por tudo isso sincretizaram-no com o diabo; em verdade ele é apenas o orixá em movimento, amigo de um bafafá, de uma confusão mas, no fundo, excelente pessoa. De certa maneira é o Não onde só existe o Sim; o Contra em meio do a Favor; o intrépido e o invencível. Toda festa de terreiro começa com o padê de Exu, para que ele não venha causar perturbação. Sua roupa é bela: azul, vermelha e branca e todas as segundas-feiras lhe pertencem. Há várias qualidades de Exu: Exu Tiriri, Exu Akessan, Exu Yangui, muitos outros. Exu leva o ogó, sua insígnia, e gosta de sentir o sangue dos bodes e dos galos correndo em seu peji, em sacrifício.

Texto de Jorge Amado, disponível no site da Fundação Casa de Jorge Amado.
<http://www.jorgeamado.org.br/?page_id=53>

Foi feito despacho de Exu, para que ele não viesse perturbar a boa marcha da festa. E Exu foi para muito longe, para Pernambuco ou para a África.
E Exu, como tinham feito o seu despacho, foi perturbar outras festas mais longe, nos algodoais da Virgínia ou nos candomblés do Morro da Favela.
Uma vez tinham metido Jubiabá na chave, o pai-de-santo passara a noite lá e tinham levado Exu. Foi preciso que Zé Camarão, que era finório como ele só, fosse buscar o Orixá - lá na própria sala do delegado, nas barbas do soldado. Quando o malandro chegara com Exu debaixo do casaco foi uma festa. E houve uma macumba que durou a noite toda para desagravar Exu que estava furioso e poderia perturbar as outras festas depois.

Trechos retirados do livro Jubiabá, de Jorge Amado (Companhia das Letras, 2008).

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